sábado, junho 19, 2010

Solidão

Ela sempre passava ali, apressada segurando os braços ao redor do corpo como quem precisasse de um abraço mas na falta de outros braços entrelaçou a si mesma. Estava sempre sozinha com fone no ouvido em algumas músicas ela se animava e se balançava instintivamente, pra outras sorria com o canto da boca mas geralmente respirava bem fundo como se quisesse sufocar algo que lutava para vir a tona. Algumas vezes passava com lágrimas nos olhos e nesses dias tive vontade de segurar sua mão...Em outras ocasiões passava toda enfeitada com um brilho no olhar mas no dia seguinte sempre estava exausta como se carregasse o mundo nas costas. Como eu temia os dias de enfeite pois já sabia o que o sucedia.
Um dia ela passou diferente, ainda tinha aquele brilho triste no olhar mas também existia uma força exalando dela que jamais havia percebido, não ouvia música como de costume e caminhava com a cabeça erguida olhando os transeuntes nos olhos como se quisesse ser vista. Retesei o corpo no meu esconderijo (um casaco com capuz) com medo de ser descoberto mas ela nem me olhou e depois desse dia nunca mais passou.
Perguntei aqueles mesmos transeuntes que ela olhara nos olhos a dias atrás e esses nem mesmo notaram a sua passagem. Eu fui o único que a vi dançar, sorrir, chorar, se enfeitar, implorar por um olhar, desistir e partir...

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