quinta-feira, julho 27, 2006

SE PUDER SEM MEDO


Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

Oswaldo Montenegro

terça-feira, julho 25, 2006

A VOZ


A voz
Sim aquela voz
Que já me trouxe tanta alegria
Que já me trouxe tanta agonia

A voz
Sim a mesma voz
Que me fez acreditar no amor
Que me fez experimentar o horror

A voz
Sim a doce voz
Que me deu uma gota de verdade
Que me deu um oceano de mentiras

A voz
Sim a ingrata voz
Que me mostrou tranquilidade
Que me mostrou insanidade

A voz
Sim a dona voz
Que me incentivou a fazer planos
Que me fez desistir do meu sonho

A voz
Sim amorosa voz
Que já não me engana mais
Porque hoje sei do que é capaz
Aquela mesma doce e ingrata dona...
Não apenas da voz

domingo, julho 23, 2006

SAUDADES

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda

sábado, julho 22, 2006

INFINITO PARTICULAR


Eis o melhor e o pior de mim

O meu termômetro, o meu quilate
Vem cara, me retrate

Não é impossível
Eu não sou difícil de ler

Faça sua parte

Eu sou daqui e não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim

Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

Em alguns instantes

Sou pequenina e também gigante
Vem cara, se declara

O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder

Olha minha cara

É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo

A água é potável
Daqui você pode beber

Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular


Arnaldo Antunes Marisa Monte Carlinhos Brown

quinta-feira, julho 20, 2006

O DIA EM QUE VOLTEI A ANDAR ...


Quanto tempo não colocava os pés no chão
Já tinha esquecido dessa sensação
Eu sempre gostei de voar
Até o dia que não consegui pousar

O dia em que um anjo me empurrou
Bruscamente me ensinou
Que flores devem na terra se fincar
E que o chão é muito distante do ar

Nesse dia descobri o que é dor
Dor de querer e não poder voltar
Dor de não encontrar meu lugar
Naquela interminavél distancia
Que separa o chão do ar

Tanto espaço pra pousar
E nenhum rosto conhecido
Pra me acenar
Acenar qual é o lugar
Me ensinar onde devo parar

Foi assim que entendi
Que só conhecia desconhecido
Foi assim que percebi
Que o meu lugar havia sumido

Cortei as asas da minha ilusão
As asas que me fizeram vagar
O que adianta tocar a imensidão
Se não souber pousar
Se não souber pisar no chão

Aceitei ter que recomeçar
Aprendi que antes de ter asas
Preciso adquirir raizes
Aprendi que antes de voar
Preciso ter pra onde voltar

No dia que voltei a andar
Entendi que flores sobrevivem no chão
E anjos precisam estar no ar
Sim é inquestionavél
O chão é absurdamente distante do ar
Flores e anjos não podem se amar

O céu e a terra nunca vão se tocar
Não posso esperar voce andar
Cortei minhas asas não posso voar
Acabou!Finalmente meus pés estäo no chão
No fatidico dia em que voltei a andar
No fatidico dia que sosseguei meu coração

Afinal flores e anjos não podem se amar...

quarta-feira, julho 19, 2006

POSSO ESCREVER...


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.

Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

domingo, julho 16, 2006

QUEIXA

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diz onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejo de vingança
Dessa desnatureza
Bateu forte sem esperança
Contra a tua dureza

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa

Caetano Veloso

domingo, julho 09, 2006

INSPIRAÇÃO


Quanto tempo não faço uma poesia
Uma poesia dessas sem compromisso
Papel e caneta em punho
Tenho o suficiente

Mas e a Inspiração?
Pra onde foi a danada?
Como essa menina é faceira
Vive se escondendo

Já olhou no armário?
Ela adora brincar com as minhas roupas
Calçar os meus sapatos
Passar minha maqueagem
Diz que já é mulher de verdade

Pode estar no porta jóias
Está sempre com sua mania de grandeza
É tão criança ainda acha que a beleza
Está unida ao brilho da riqueza

Olha ali entre os meus livros
É muito inteligente
Está sempre debruçada nessas páginas
Apesar de ainda nem saber ler
Como é curiosa a guria
Daqui a pouco está escrevendo seu nome

Será que está na cozinha
Vou procurar lá
Quem sabe deu fome
Espero que sim
Anda tão magrinha
Quero ela forte
Pra que creça saudavél

Não está lá
Já estou preocupada
Onde se meteu essa pestinha?
Vou lhe dar umas palmadas
Precisa criar responsabilidade
Sempre que preciso dela desaparece

-Porque esta tão palido?
-É por causa da Inspiração
-Cade ela?Encontrou a travessa?
-Sim,mas houve uma desgraça
-O que foi?
-Esqueci a janela aberta e a Inspiração...
-Oh meu Deus! Não!

Lápide de Inspiração:
Jaz em paz e prematuramente o unico sonho de toda uma vida:
Ser Poeta

quarta-feira, julho 05, 2006

UMA CARTA DE ODIO

Dia 06/07/2006 grava bem esse dia porque é o ultimo dia que penso,escrevo ou falo de você.Acaba aqui eu nunca mais quero saber de você,nunca mais...Eu nunca amei ninguem como te amei mas também nunca odiei ninguem como eu estou te odiando agora...
Foi a pior coisa que aconteceu na minha vida e sinceramente sem vergonha de ser pequena,até porque menor do que eu estou hoje não dá pra ficar,eu desejo do fundo do meu coração que você se ferre.
Parabens você conseguiu acabar comigo.Aquele papo de que eu desejo pra você toda a felicidade do mundo acabou eu quero mesmo é que você seja muito infeliz e que alguém te faça sofrer tanto ou mais do que você me fez...
Até ontem eu achava que nunca ia deixar de te amar mas eu estava enganada agora eu te odeio: por todas as suas mentiras,pela seu jogo mediocre,pela pessoa mediocre que voce é,pelas minhas noites sem dormir,pelas minhas lagrimas,pelos sete meses que perdi,pelos cartões telefonicos...Cara como voce pode fazer isso comigo?
Eu me entreguei totalmente a voce,te amei tanto,fui sincera em tudo e olha só como você me paga...Podia ao menos ter tido a decencia de me dizer a verdade mas você não deve nem saber o que é decencia quanto mais o que é verdade...
Bato com a minha cabeça na parede tentando entender como eu me deixei enganar tanto.Meu Deus eu fui muito idiota!Eu me odeio por um dia ter te amado...
E como eu te amei...Eu te amava da forma mais linda e mais pura que se pode amar...Eu faria qualquer coisa por você eu abdicaria de tudo se me pedisse da minha familia, dos meus amigos, do meu trabalho, da minha cidade, dos meus sonhos e até de mim mesma.O pior é que você não teve nem dignidade pra me pedir preferiu roubar.
Você roubou de mim a pessoa linda que eu era e que me orgulhava tanto de ser eu acreditava na vida,acreditava nas pessoas e sobre tudo acreditava no amor...Agora sinto que nunca mais vou conseguir confiar em alguem e muito menos amar ou me deixar ser amada...
A sensação que eu tenho é de que não vou aguentar que vou morrer de tanta dor.O meu choro esta me sufocando porque tenho que chorar baixinho...Saber que você tem outra em duas semanas você já arranjou outra enquanto eu não tenho nem coragem de arrebentar um maldito cordão...Você dizia que eu era a sua vida e o pior de tudo é que eu acreditava fielmente nisso e em menos de duas semanas já tem outra no meu lugar. Nunca me amou.NUNCA! Me usou,mentiu pra mim.E me pergunto:porque? Que mal tão grande eu te fiz pra você acabar comigo desse jeito?
Eu já não posso cumprir a promessa que fiz de te amar pra sempre mas posso te jurar qe vou te odiar por toda a vida...Vou te odiar todas as vezes que hesitar em me entregar a alguém...
Você foi muito ruim comigo.A troco de que? O que você ganhou com tudo isso?Acrescentou alguma coisa a você? Não sei se você ganhou mas sem sombra de duvidas perdeu...Perdeu alguém que te amaria por toda a vida como no primeiro dia...
Sem duvida eu fui a que mais perdi.Perdi a mim mesma, a minha essencia, o meu amor proprio, a minha ingenuidade, o meu romantismo, a minha doçura, a minha vontade do sorrir.Perdi todas as qualidades que me faziam unica e agora eu sou somente mais uma na multidão...E nem que eu viva por 1000 anos vou te perdoar por isso...