sábado, junho 02, 2007

RECOMEÇO

Abro a janela dia sem sol Nas gavetas abertas as nossas roupas misturadas No livro jogado no chão uma foto sua como marcador de página Abro a porta e vejo um mundo pra mim em que você não está...Bato a porta Fecho a gaveta os livros e a janela que me mostra um dia fechado me tranco em mim...Se as chaves se perdessem definitivamente. Com a sua ausência sol não nasce, eu desconheço o meu cheiro os livros não tem mais sentido e o mundo perde o valor...E me diz o que há lá fora sem ti? O que há aqui dentro sem ti? O que há em mim sem ti?
E essa casa vazia é o espelho do meu ser Suas marcas se espalham por toda a parte mas você não está...Por inúmeras vezes te desejo a tal ponto que quase pude te tocar mas o quase é pouco e me perco em devaneios livremente sem suas mãos grandes pra me puxarem de volta a realidade...Se me mostrasse o caminho dessa sua nova realidade?
E como pode encontrar nos braços de outra a felicidade Se fui eu que te dei os meus melhores sorrisos? Ainda posso sentir em meu peito os soluços ao te ver batendo a porta e saindo sem olhar pra trás. Como quem pede demissão de um emprego estafante e vai com lágrimas nos olhos apenas pelos grandes amigos que fez mas aliviado por não ter que voltar ali no dia seguinte...
Desse dia em diante experimentei todos os sentimentos: medo, raiva, ódio, pena de ti e de mim mas hoje escrevendo essa carta só me sobrou um o AMOR, que nutriu todos os outros até aqui... Tento compreender quando você começou a se afastar de mim e como não percebi. Devia ter te agarrado quando ainda estava aqui...E dessa vertente surge uma lista enorme de tudo que devia ter feito e não fiz: cada beijo que eu evitei (eu só queria poder resgatar um apenas um deles) as vezes que procurava o meu corpo e eu te repelia por me julgar cansada demais pra atender seus desejos e todo o tempo que perdi te amando pela metade...E agora estou aqui me dando inteira mas você não está mais pra me querer...
Essa é última carta que lhe escrevo e como das outras vezes peço que não a responda... Pelo respeito que disse sentir por mim rogo que não me procure jamais, em nenhuma circunstancia pois nunca te perdoaria se ousasse bater novamente na porta que fechou com tanto desdém...E o meu último pedido a ti é que faça valer a pena, cada fisgada de dor do meu peito cada lágrima que fez saltar dos meus olhos, seja feliz...Pois eu amanhã abrirei as minhas portas a minha janela e deixarei a luz entrar em mim e um mundo novo se abrirá...



PS:Ela acordou bem cedo e destrancou a porta, não se lembrava da última vez que fizera isso, estava com o seu melhor vestido quando saiu a rua e pode sentir os olhares admiradores o ar parecia entrar pelos seus poros entupidos de poeira domiciliar. Comeu seu sanduiche gorduroso preferido sem se preocupar com as calorias. Postou a carta escrita na noite anterior e foi andando em passos firmes até a estrada estava bem excitada mas o medo também era seu companheiro de caminhada apesar de tentar insistentemente disfarça lo...Se lançou na frente do primeiro caminhão que avistou e permitiu que ele a esmagasse...Sua última lembrança em vida foi a intensa luz do farol vindo em sua direção...Assim como dissera em sua carta de despedida ao único e grande amor da sua vida...

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo! Chorei do ínicio ao fim, sem cessar.

Karine disse...

Não tenho mais palavras p/ descrever tamanha admiração... pena que o brasil ainda não conhece a grande escritora q vc é, mas isso é por enquanto... te amo e admiro muito!
grande bjo e saudades!